Por: Jair Soares -UECE
RESUMO
O Presente
resumo tem por objetivo explicitar um panorama inicial sobre os princípios que constituem o
pensamento ético e moral do filósofo Immanuel Kant, destacando os conceitos de
vontade, desejo, bem e inclinação.
A base de estudo para este texto é a obra intitulada
Fundamentação da metafísica dos costumes.
INTRODUÇÃO
Não é possível conceber coisa alguma
no mundo, ou mesmo fora do mundo, que sem restrição possa ser considerada boa,
a não ser uma só: uma boa vontade. A inteligência, o dom de aprender as
semelhanças das coisas, a faculdade de julgar, e os demais talentos do espírito, seja qual for o nome que se lhe dê, ou a
coragem, a decisão, a perseverança nos propósitos, como qualidades de temperamento, são sem dúvida, sob
múltiplos respeitos, coisas boas e apeticíveis; podem entanto estes dons da
natureza tornar – se extremamente maus e prejudiciais, se não for boa vontade
que deles deve servir – se e cuja especial disposição se denomina carácter(p. 53, 1ª seção).
Este parágrafo inicial traz enquanto
velamento três questões iniciais que serão essenciais para se
compreender o pensamento moral do filósofo Immanuel Kant(1724-1804). Primeiramente para
compreender o campo ético de Kant, irei explicitar os dois maiores pensadores
do campo da ética dentro de todo o processo histórico da filosofia. Temos
Aristóteles(384-322 a.C) no período antigo e Kant no período considerado como moderno. Para
Aristóteles a compreensão do pensamento ético estava associada na relação entre
homem e a natureza, ou seja, uma reflexão profunda sobre a vida como um todo.
A relação de homem e natureza dentro de
uma preocupação com a vida estava elencada a busca pela felicidade ou uma “autorrealização”. Todavia, para Kant conceber a natureza dentro de uma perspectiva
ética e moral era inadmissível, pois para Kant era preciso ter uma desconfiança
profunda em relação as nossas naturezas, a natureza de cada indivíduo era
constituída de desejos, apetites, interesses e principalmente de inclinações.
Aqui percebemos a preocupação de Kant com a conduta dos seres humanos.
Desta forma enquanto Aristóteles estava
preocupado com a vida enquanto um todo, Kant preocupava – se com o próprio
homem e sua conduta com seu espaço interno e externo.
Outro
ponto importante é que Aristóteles parte de uma premissa onde a relação com o
cosmos é totalmente aceitável, para o filósofo Grego o universo era finito e
organizado e cada ação do ser humano estava explicada dentro da relação entre
os meios e as causas.
Em Kant o universo era “infinito” e
completamente “desorganizado”, portanto, um universo “caótico” e que era
necessário utilizar a razão ética e moral, como forma de compreender esse mundo
caótico. Para se viver e compreender esse universo caótico seria necessário
utilizar a “razão” como condutora das virtudes, Kant define também dois
conceitos que serão essenciais para desvelar seu pensamento moral, temos a ideia de “vontade” que faz parte da razão, porém a vontade teria que ser
utilizada de forma moderada.
Até aqui, temos as bases nas quais serão
importantes para desvelar esses pontos iniciais do pensamento moral de Kant.
Desta forma o que seria a ideia de “vontade” ou “boa vontade” que Kant aponta
do inicio da citação? Ora, primeiramente é importante frisar que Kant foi
completamente influenciado pelas obras do filósofo francês Rousseau(1712-1778), desta
forma à ideia de “boa vontade” é amadurecida por Kant à partir da obra de
Rousseau “Discurso da origem das desigualdades entre os homens” onde o filósofo
vai relacionar a questão da diferença entre “razão” e “instinto”. A razão está
associada a capacidade dos homens de raciocinar e se diferenciar dos animais,
vejamos, o homem é “instinto e razão” todavia, o que o torna diferente dos
animais é a capacidade de raciocinar.
Segundo Kant a ideia de “boa Vontade” está associada a elaboração, deliberação que o homem é capaz de construir através de
sua razão. Com à razão o homem transcende à sua natureza e utiliza à razão para
viver melhor. Desta forma à “boa vontade” em Kant é o pensamento a serviço da
vida, saber prático materializado em favor da vida. Portanto é necessário
compreender que os dons da natureza são fáceis de enganar os homens e que o
mais importante seria à perspectiva “racional” deliberando à capacidade dos
homens de decidirem suas escolhas.
O Poder, à riqueza, à honra, à própria saúde e o completo bem estar e satisfação do próprio estado, em resumo
o que se chama felicidade, geram uma
confiança em si mesmo que muitas vezes se converte em presunção, quando falta à boa vontade para moderar e fazer convergir para fins universais tanto à influencia que tais dons exercem sobre à alma como também o principio da ação(p. 53, 1ª seção).
Neste trecho Kant tece uma crítica em
relação ao comportamento humano, para Kant à felicidade não seria o bem
maior. À felicidade pode ser referencia para à vida dos animais que vivem por
instinto, utilizam os instintos apenas para satisfazerem seus desejos. Por isso
que a ideia de felicidade é controversa ao pensamento moral de Kant, pois: o
homem em busca de sua felicidade é capaz de mutilar o ser do outro. Ou o
próprio desejo não motivado por razão, esse desejo em si é nocivo à ideia de
moral Kantiana.
A moderação nos afetos e paixões, o
domínio de si e à calma reflexão, não são apenas bons sob múltiplos aspectos,
mas parece constituírem até uma parte do valor intrínseco da pessoa; falta contudo ainda muito para que sem
restrição possam ser considerados bons ( a despeito do valor incondicionado que
os antigos lhes atribuíam). Sem os princípios de uma boa vontade podem tais
qualidades torna – se extremamente más: por exemplo, o sangue frio de um
celerado não só o torna muito mais perigoso, como também, a nossos olhos, muito
mais detestável do que o teríamos julgado sem ele(p. 54).
Observa – se novamente na citação à preocupação de Kant com os aspectos de uma moral focada na moderação, quando o
filósofo aponta à questão do “valor incondicional”, ele faz essa crítica
justamente à filosofia antiga Aristotélica. Para Kant à razão é condição,
moderação, seria um olhar para dentro de si, mas primeiramente teria que olhar para o todo. “Ou seja, Primeiro o universo, depois o eu. Outro ponto importante
é que nem toda “vontade” é uma “boa vontade”, pois à razão exerce influência
sobre à vontade e o desejo.
Kant é enfático em dizer que os desejos
e as vontades sem moderação são os principais problemas éticos e morais. Neste sentido é que o mundo apresenta - se como caótico, pois os homens não sabem utilizar à razão como
“moderadora” de suas vontades e desejos. Percebe – se que a ética Kantiana
denota um cunho universal.
Passo aqui em silencio todas as ações
geralmente havidas por contrárias ao dever, se bem que, deste ou daquele ponto
de vista, possam ser úteis, pois nelas não se põe a questão de saber se podem
ser praticadas por dever, uma vez que estão em contradição com ele. Deixo
também de lado as ações que são realmente conformes com o dever, para as quais
entanto os homens não sentem inclinação
imediata, mas que apesar disso executam sob o impulso de outra tendência;
porque, em tal caso, é fácil distinguir se a ação conforme com o dever foi
realizada por dever ou por calculo
interesseiro(p. 57).
De acordo com Kant os homens estão sujeitos a caírem em determinadas inclinações, pois quando
não se utiliza à “razão”, esse homem vai usar seus “desejos” e “vontades”
para se auto – realizar. Por isso é evidente que nem sempre à ação dos homens
são movidas pelo “dever”, pois esta ação pode estar sujeita apenas à realização
individual de cada homem, por isso, dizer que o dever é realizado por cálculo e
não pelo dever em si. Gostaria de apontar aqui, que Kant não nega os “desejos e
as vontades”, ele faz uma “reflexão” a partir de um ponto de vista ético e
moral sobre esses determinados comportamentos que são inerentes ao homem.
Por isso é necessário dizer que à moral
Kantiana é uma avaliação da razão da conduta, do motivo da conduta e da
intenção da conduta do homem. Portanto,
Kant é considerado um filósofo “intencionalista” pois o fundamento da moral
está na intenção do que os homens fazem ou do que você fez. Desta forma o que seria o dever em Kant?. Para o filósofo o dever
seria a etapa do pensamento que ajuda a pensar sobre à conduta, à moral é vista
como um olhar sobre si mesmo.
Por exemplo é manifestamente conforme
com o dever que o comerciante não peça um preço demasiado elevado a um
comprador inexperiente, e mesmo quando o comércio é intenso, o comerciante
hábil não procede desse modo; mantém, pelo contrário, um preço fixo igual para
todos, de sorte que um criança lhe pode comprar uma coisa pelo mesmo preço que
qualquer outro cliente. As pessoas são pois servidas leamente mas isso não basta para crer que o negociante procedeu
assim por dever ou por princípios de probidade; movia – o o interesse; e não se
pode supor neste caso que ele tivesse, além disso, uma inclinação imediata para
com seus clientes, que o induzisse a fazer, por amor, preços mais convenientes
a um do que a outro. Eis ai uma ação cumprida, não por dever, nem por
inclinação imediata mas tão – somente por calculo interesseiro( p. 58).
Kant procura desvelar um questão
importante e necessária sobre as dimensões do agir humano segundo à “razão”. Temos duas questões importantes aqui, à primeira seria a ideia de “agir
conforme o dever” e a segunda “agir de acordo com o dever”
Desta forma Kant conceitua que “agir por
dever” seria o agir para o bem, ou seja, esta ação que tem à razão como base,
relaciona – se com as dimensões de “respeitar o dever”. Seria o pleno uso das
nossas faculdades deliberativas que provoca o “fazer certo pelo certo”, mesmo
sabendo que o homem poderá sofrer depois. Agora o agir
“segundo o dever” é conceituado como uma a ação do homem que tem uma intenção
de “não respeitar” o dever, aqui a motivação é para agir apenas por interesse
próprio.
Percebemos aqui uma preocupação de Kant
por uma Ética e uma moral que tem uma perspectiva universal, por isso na
segunda seção o filósofo vai aprofundar essa dimensão que eu estou propondo
como uma moral universal a partir de dois conceitos que serão de grande
importância.
Em Kant a moral é um olhar para si
mesmo, esse olhar está constituído de imperativos que por sua vez relacionam –
se com a idéia de ações impulsionadas pela razão que podem ser positivas e ao
mesmo tempo negativas. Quando positivas, podem chegar ao bem, pois o agir para
o bem é um agir conforme a razão e o dever por dever. As negativas é o agir
apenas por interesse próprio e não universal. Desta forma Kant conceituará na
segunda seção de sua obra os “imperativos hipotéticos” e “imperativos
categóricos”.
Ora, todos os imperativos preceituam
ou hipoteticamente ou categoricamente. Os imperativos hipotéticos representam a
necessidade de uma ação possível, como meio para alcançar alguma coisa que se
pretende ( ou que, pelo menos, é possível que se pretenda). O imperativo
categórico seria aquele que representa uma ação como necessária por si mesma,
sem relação com nenhum ouro escopo, como objetivamente necessária(p. 75).
Segundo Kant o imperativo hipotético possuí
um valor menor, pois à ideia deste imperativo está relacionada com à perspectiva do interesse individual, condiz por aquilo que o homem pretende
apenas em si, portanto para Kant, partes da vontade dos homens são hipotéticas,
pois essas vontades são individuais.
Em se tratando do imperativo categórico
esse funciona categoricamente para cada um, cada pessoa, ou seja, todo o mundo
deve pensar para agir segundo o bem. Kant propõe um jeito de pensar que
resolverá qualquer problema, mas, como seria este pensar?
Kant propõe a seguinte reflexão: Viver de
tal maneira, que a tua vontade pretenda que o principio que rege teu
comportamento, possa reger o comportamento de qualquer um. Ou seja, Kant coloca à necessidade do “homem se colocar no lugar do outro”, para isso é necessário agir conforme à razão para se chegar ao bem.
Seguindo o pensamento de Kant na
terceira e ultima seção, o filósofo vai chegar à reflexão sobre o
conceito de liberdade no homem. Para Kant uma vontade livre seria um absurdo,
por isso dando continuidade aos imperativos quer sejam hipotéticos, quer
categóricos, Kant vai propor sua reflexão da seguinte forma:
Não basta atribuir, por qualquer
motivo, à liberdade a nossa vontade, se não temos motivos suficiente para
atribui – la igualmente à todos os seres racionais. Um vez que à moralidade não
nos serve de lei se não enquanto somos seres racionais, daí se segue que ela
deve valer igualmente para todos os seres racionais; e visto ela derivar
exclusivamente da propriedade da liberdade, é preciso também demonstrar a
liberdade como propriedade da vontade de todos os seres racionais; e não basta
aduzir como provas certas pretensas experiências da natureza humana ( o que,
aliás, é absolutamente impossível; pois que de possível só existe uma
demonstração exclusivamente a priori); mas é preciso demonstra – la como
pertencente em geral à atividade de seres racionais e dotados de vontade(p.
113).
Kant não escreve à fundamentação da metafísica
dos costumes por acaso, percebemos que em todos os pontos e conceitos
destacados desde o começo deste resumo o filósofo aponta um problema que não
aparece explicitamente em sua obra. Que problema Kant pretende aprofundar nesta
fundamentação? Kant parte de uma questão complexa que é a “mentira”, seja a
“mentira individual” ou a “mentira universal”; daí a preocupação de se pensar,
uma fundamentação onde os princípios éticos e morais serão conduzidos como as
bases de seu pensamento racional e intencional.
Desta forma o que se pretender é abrir
uma reflexão sobre a relação da razão dos homens contra os preceitos naturais,
os desejos, os impulsos. Assim Kant propunha à possibilidade se chegar ao bem
universal pela capacidade da razão, da moderação e principalmente pela escolha
correta e responsável das ações humanas.
REFERENCIAS
KANT. Immanuel.
Fundamentação da metafísica dos costumes, tradução: Antonio Pinto de Carvalho –
Companhia editora Nacional, São Paulo 1964.
www.espaçoetica.com.br/ Pós graduação
em Filosofia – USP, Palestra proferida pelo professor Dr. Clóvis de Barros
Filho via web aula. acesso em 19/02/14 ás 21:39.
Comentários
Postar um comentário