Por: Jair Soares de Sousa
O presente resumo tem como objetivo abordar a problemática da
escolha Profissional na sociedade contemporânea, buscando contextualizar
através da sua genealogia uma abordagem sócia histórica, que procure revelar causas
fatos e efeitos da dimensão profissional e sua relação com a juventude e a
educação.
INTRODUÇÃO
Contextualizar o surgimento da escolha profissional nos reporta
a perceber como eram as profissões nas sociedades primitivas, antigas e
medievais.
Existia realmente profissão? Os homens poderiam ter direito
a escolha profissional?
Durante a maior parte da sua existência pré - histórica, o
homem viveu em condições de extrema pobreza.
Os homens tinham apenas a preocupação de encontrar o
alimento necessário a sua subsistência como á caça, pesca e a colheita de frutas.
A humanidade viveu como parasita da natureza, visto que não
aumentava os recursos naturais que se encontravam na base da sua subsistência.
Não tinha qualquer controle sobre estes recursos.
As comunidades primitivas estão organizadas de forma a
garantir a sobrevivência coletiva nestas condições de existência extremamente
difíceis. Cada um participa obrigatoriamente no trabalho; o seu trabalho é
necessário para manter viva a comunidade. A produção de víveres mal chega para
alimentar a coletividade. A existência de privilégios materiais condenaria a
fome uma boa parte da tribo, priva – lá – ia da possibilidade de trabalhar
racionalmente e separaria assim as condições de sobrevivência coletiva. Eis
porque a organização social, nesta época do desenvolvimento das sociedades
humanas tende a manter um máximo de igualdade no interior das suas comunidades.
Tendo examinado as instituições sociais de 425 tribos
primitivas, os antropólogos ingleses Hobhouse, Wheeler e Ginsber encontraram
uma ausência total de classes sociais entre todas as tribos que ignoram a
agricultura.
Desde o período primitivo da humanidade as relações de
trabalho, eram apenas para a produção e auto - sustentação. Não se pensava em
uma concepção de profissão, a preocupação era plantar, colher, e se alimentar,
desta forma constitui – se a cultura de subsistência. A atividade predominante
como cita o texto acima era a caça e a agricultura considerada sedentária,
justamente pelo fato de apenas colher e se alimentar.
Nas sociedades antigas a atividade dos indivíduos baseava -
se no oficio da contemplação, que era efetuado pelas pessoas livres. O trabalho
nessa época era ócio das pessoas não – livres que tinham a missão de produzir
para sua existência.
Ser cidadão, artesão, pequeno camponês nessa época não dependia
de escolha, e sim das condições da classe familiar do individuo, ou de acordo
com vitórias ou derrotas em determinados conflitos ou guerras existentes nesse
período. A passagem de Neffa, citada por Silvio Duarte Bock, no livro
orientação profissional a abordagem sócio – histórica retrata um pouco sobre o
pensamento em relação ao trabalho e a profissão na sociedade antiga.
“Para os grandes filósofos Gregos, especificamente para Platão
e Aristóteles, o trabalho era uma atividade exclusivamente física, que se
reduzia ao esforço que deviam fazer as pessoas para assegurar seu sustento,
satisfazer suas necessidades vitais e reproduzir sua força de trabalho (circunscrita
a sua dimensão meramente física). Era uma atividade considerada pelos demais
não somente como penosa, se não também como degradante, que não era valorizada
socialmente e que se justificava em última instância pela dependência que os
seres humanos tinham com respeito ás suas necessidades.” (NEFFA, 1999: 130
traduções nossa do espanhol, BOCK, Orientação profissional, a abordagem sócio -
história: 2006: 20).
‘Independentemente de o trabalho ser ou não valorizado,
percebe – se que a discussão não dizia respeito á atividade em si. A forma como se dava a
luta pela sobrevivência não dependia de escolhas. Ao contrário, as condições
estavam estabelecidas aprioristicamente pela estrutura da sociedade e a forma
como ela se organizava. ’(BOCK, 2006: 21).
Com o surgimento da
sociedade medieval e subsequentemente o feudalismo, a sociedade sofre uma
extratificação, ou, seja uma divisão de terras.
Com as divisões dos feudos (pequenas propriedades de terra
que eram administradas pelos senhores feudais), os homens começam a produzir
especificamente para o senhor feudal. Com
o surgimento da sociedade feudal passa a coexistir as primeiras tendências para
o surgimento do
Sistema capitalista.
As palavras de Huberman, citadas no livro orientação profissional, a abordagem
sócio - história de Silvio Duarte Bock nos relata perfeitamente como era a
visão de trabalho no período medieval.
“Praticamente toda alimentação e o vestuário de que o povo
precisava eram obtidos no feudo. Nos primórdios da sociedade feudal, a vida
econômica decorria sem muita utilização do capital. Havia uma economia de
consumo, em que cada aldeia feudal era praticamente auto – suficiente... O
servo e sua família cultivavam seu alimento e com as próprias mãos fabricavam
qualquer mobiliário de que necessitava. O senhor do feudo logo atraía á sua
casa os servos que se demonstravam bons artífices, a fim de fazer os objetos de
que precisava.” (HUBERMAM, pág. 22)
Mesmo na sociedade feudal a escolha profissional ainda não
existia, os homens precisavam produzir nas terras do senhor feudal para
garantir um lugar para morar e comida para se alimentar. O que existia
profundamente na sociedade feudal era o conceito de vocação religiosa
constituída por clero, nobres, plebeus, senhores e vassalos, constituindo – se
assim um conceito de vocação dogmático, católico e fechado.
Com o surgimento da sociedade moderna e com o advento da
revolução industrial e do capitalismo a escolha profissional passa a existir
plenamente, o trabalho começa a ser pensado como base da sociabilidade humana,
sem trabalho o ser humano não pode sobreviver. Mas o surgimento da escolha
profissional começa a ser visualizado como uma gama de fatores e problemas. A
sociedade vai se complexificando com o decorrer da história.
Ter uma profissão no sistema capitalista significa que a
partir de agora os homens e mulheres precisam vender seu tempo e sua mão de
obra para garantir sua sustentabilidade. O sistema capitalista fundamenta – se
basicamente no trabalho supostamente livre, onde os trabalhadores vendem sua
força de trabalho aos empresários em troca de um salário, o trabalho começa
tecer uma rede desumana com um olhar totalmente negativo, os trabalhadores
passam a ser explorados. No capitalismo não existe uma visão de humanização e
sim uma concepção de desumanização com os homens e mulheres, simplesmente pela
moeda de capital.
A sociedade passa a concentrar riquezas, nas mãos dos
empresários, e grande parcela da população passa a sofrer as conseqüências,
dessa forma de economia, onde o trabalhador é visto como uma máquina de
produção de riquezas.
Também é importante perceber – mos que as classes dominantes
se organizam justamente para excluir os membros das classes exploradas e
produtivas do exercício de funções que lhes permitiam abolir a exploração que
lhes é imposta. A passagem de Bock retrata muito bem como o individuo é
percebido no sistema capitalista.
“Individuo e sociedade só se diferenciam claramente no
capitalismo. Tal diferenciação é lógico defende determinados interesses, no
sentido de reafirmar a nova ordem constituída. A burguesia, enquanto classe
revolucionária na época, lutando contra a velha ordem, desenvolvia a tese de
que todos os indivíduos são iguais e que, por isso deveria existir liberdade de
(escolha). Lutava, assim, contra clero e a aristocracia que defendiam a
perpetuação do regime feudal, do qual eram beneficiários”(BOCK, S, 1989: 15,
Orientação profissional, a abordagem sócio – histórica).
O sistema capitalista vai se fortalecendo cada vez mais, os
indivíduos começam a vivenciar uma mudança muito latente em relação á escolha
profissionais, será que os seres humanos têm direito de escolher sua profissão?
A latência em relação á escolha profissional é justamente as condições que vão
sendo impostas pelo sistema de acumulação de riquezas, as pessoas são
condicionadas a determinadas profissões pela questão da sobrevivência, são
sujeitadas a não ter opção de escolha, o sistema é quem vai escolher e admitir
de acordo com os seus padrões de opressão. Segundo Silvio Duarte Bock, Refletindo
sobre a escolha profissional, várias correntes de pensamento fundamentadas por
brasileiros e elaboradas pelo teórico Crites, começam á Perceber o surgimento
da escolha profissional.
1ª Corrente: teoria não psicológica: o que faz a pessoa se
aproximar de determinada profissão são os fatores “externos” ou, seja
necessidades particulares, financeiras, etc.
2ª Corrente: teoria psicológica: os indivíduos têm escolhas
(ou seja, os indivíduos têm implicações pessoais) nessa visão o individuo
modifica e é modificado pelo meio.
De acordo com essas teorias a psicologia vai orientar o
profissional, ou seja, vai encaixar enquadrar o indivíduo a determinada
profissão. A psicologia vai “introduzir uma crença no inatismo”, o individuo
nasceu para ocupar determinado espaço imposto pela visão psicológica.
Cada vez mais a escolha profissional vai se tornando um
complexo de complexos, outras teorias são pensadas justamente para provocar
novos olhares sobre a profissão e o trabalho, essas teorias são conceituadas
como:
Teoria traço fator, teoria psicodinâmica, teoria
desenvolvimentista, teorias decisionais, teorias gerais, teorias tradicionais,
teorias críticas e para – além da crítica.
Com os questionamentos, formulações de teorias e conceitos,
a escolha profissional começa a passar sobre suas causas, fatos e efeitos, uma
vez que a condução da classe dominante sobre o capital vai privilegiando poucos
e
Deixando muitos indivíduos em situação de pobreza,
desemprego e até miséria.
O desemprego é considerado na contemporaneidade como uma
grande mazela dos nossos tempos. O desemprego e a pobreza é o que chamamos de
reflexo do acúmulo de riquezas nas mãos da classe dominante, a escolha
profissional é condicionada com o a demagogia do capital, onde reforça a idéia
de que para os seres constituírem bens matérias, uma vida instável, tem que
estudar e se profissionalizar, quem não seguir as regras ficam para trás.
Para perceber – mos melhor a afirmação sobre o desemprego vamos
visualizar que existe uma dicotomização em relação ás profissões, os que
possuem o privilégio de estudar e possuir uma formação técnica ou superior é
separado, dos que não possuem tais especificidades.
Para as classes dominantes é preferível que os homens e
mulheres não pensem, justamente para que não haja questionamentos em relação ás
situações de trabalho, dessa forma a figura do patrão lucra exacerbadamente,
com a produção da mão de obra sem intelecto.
O público atingido
pela problemática do desemprego são as camadas populares, onde se encontram
mais vulneráveis socialmente, a grande maioria na qual sofre determinada
influencia são os jovens, segundo as pessoas acima de 40 anos de idade.
Na sociedade de consumo fica mais intenso a dissociação da
juventude em relação á profissionalização e a primeira experiência de trabalho.
Seria uma falha no sistema educacional? Ou uma falta de investimento nas
políticas do ministério do trabalho?
O que educação tem haver com a escolha profissional?
Essas são algumas reflexões presentes neste resumo com o
objetivo de enriquecer as explanações escritas.
É obvio que se houvesse um olhar mais apurado em relação á
educação a problemática da escolha profissional poderia ser interpretada com outro
olhar, se pararmos para analisar quem sofre mais com as situações de desemprego
são justamente os homens e mulheres que não tiveram a oportunidade de constituir
uma educação de qualidade, muitos não completaram nem o ensino fundamental.
Pensar na escolha profissional tem uma relação muito
profunda com o eixo de educação, desde o inicio das civilizações a educação
sempre esteve presente de várias formas na vida dos homens e mulheres.
Segundo Karl Marx a educação tem um papel fundamental em
relação ao trabalho e o trabalhador, para ele o proletariado, teria que receber
formação intelectual e científica além de técnicas e da força física na qual
eram submetidos nas suas jornadas de trabalho intensas.
Para refletirmos melhor a educação nesse contexto é
importante perceber que a escola, peça fundante no contexto educacional é vista
como um aparelho reprodutor da sociedade. A escola produz e reforça a idéia do
capitalismo selvagem, e da instrumentalização dos seres humanos.
A escola, as universidades e faculdades utilizam o discurso
de formar para o mercado de trabalho, a visão é justamente de concorrência,
como no sistema capitalista, não existe uma dimensão de educação voltada para o
despertar de consciências críticas, a educação é conduzida com a idéia de
enquadrar os homens e mulheres.
Como criar uma cultura nas instituições de ensino que
despertem o senso crítico dos homens e mulheres?
Como pensar a educação como liberdade e não aprisionamento
do ser pensante?
Paulo Freire em seu livro educação como prática de liberdade
colocava que educar é justamente politizar o homem, despertar uma visão crítica
e não uma visão ingênua da realidade que o cerca.
Dessa forma vamos começar a visualizar a escolha
profissional relacionando – a com a educação. Freire foi um dos grandes
filósofos e epistémologos da educação no Brasil e no mundo, suas contribuições
a cerca do pensamento questionador em relação ao oprimido (classes populares) e
o opressor classe dominante foi fundamental para a formação de vários pedagogos
e professores. Paulo freire defendia a educação popular como um ato de
despertar consciências críticas dos homens e mulheres, segundo freire a
educação é ato de amor construído pelos homens e mulheres e que a dialogicidade
era fundamental nesse processo de ensinar e aprender.
É importante perceber que para Paulo freire a educação está
relacionada com uma conjutura de fatos que exteriores e interiores ao homesn, a
educação não se separa da realidade concreta do ser, seus costumes, sua
cultura, local onde mora, e que cada pessoa já possui consigo um saber
construído a partir da sua experiência de vida.
Se homens e mulheres passassem por um processo de educação
eficaz onde houvesse realmente uma preocuparão com sua formação focando uma
leitura de mundo e seus saberes fossem considerados, ambos teriam problemas com
a á escolha profissional?
“Como educador preciso de ir “lendo” cada vez melhor a
leitura do mundo que os grupos populares com que trabalhos fazem de seu
contexto imediato e do maior de que o seu é parte”.
O que quero dizer é o seguinte: não posso de maneira alguma,
nas minhas relações político – pedagógicas com os grupos populares,
desconsiderar seu saber de experiência feito. Sua explicação do mundo de que
faz parte a compreensão de sua própria presença no mundo. E isso tudo vem
explicitado ou sugerido ou escondido no que chamo “leitura de mundo” que procede
sempre a leitura da palavra. (FREIRE, Pedagogia da Autonomia, pág: 81).
A leitura de mundo na qual Freire cita em pedagogia da
autonomia reflete muito bem a dimensão dos homens e mulheres enquanto seres que
pensam e que tem um conhecimento adquirido de acordo com sua e vivencia e sua
prática, diferente do sistema capitalista que percebe os homens e mulheres
apenas como máquina de produção.
Paulo Freira traduz o pensamento educacional para toda á vida
e não apenas no contexto escolar, dessa forma podemos relacionar o pensamento
Freiriano com as concepções que relatam á escolha profissional dos homens e
mulheres.
Na escolha profissional dos homens e mulheres a libertação e
a construção da autonomia são fundamentais no processo de superação do sistema
capitalista.
A educação popular pode ser concretamente, um instrumento de
desenvolvimento da consciência crítica popular, na medida em que aportam
instrumentos para os agentes populares de transformação sejam capazes de viver,
ao longo de sua ação, essa dinâmica do concreto na realização ação – reflexão:
crítica da realidade social vigente; ação mobilizadora de transformação da
realidade social; revisão crítica da ação realizada; reformulação da ação transformadora; reavaliação crítica de realidade social.
(BARREIRO, P.22)
Relacionar o processo histórico da escolha profissional com
a educação
Traduz um outro olhar em relação á dicotomização de trabalho
e educação
Percebe – se que existe uma relação muito forte nas duas
questões, de um lado, homens e mulheres que todos os dias procuram uma
possibilidade de sobreviver no sistema de capital selvagem, procurando cursos
profissionalizantes, formações de nível técnico, de um outro, uma camada da sociedade que não tem nem acesso
nem se quer a educação, vivem em condições realmente precárias de
sobrevivência, com certeza esse público não tem o direito a escolha
profissional, o sistema capitalista continua condicionando esses sujeitos de
história, a optar por qualquer possibilidade para conseguir ganhar alguns
trocados.
Em relação á educação percebe - se cada vez mais a
intensidade e o favorecimento do sistema educacional as questões da
concorrência e apologia ao capital.
Mas a partir dessas reflexões fica um fato muito importante,
os homens e mulheres, ainda possuem a capacidade de pensar e exercer a sua
criticidade em relação ás forças dominantes, enquanto sonhar – mos e acreditar
– mos no mundo melhor sem opressão e favorecimento de classes, aos poucos
estaremos construindo a emancipação das nossas utopias.
“Sonho
que se sonha só... é só
Um
sonho que se sonha só
Mas
sonho que se sonha junto
é
realidade.”
(Raul
Seixas)
REFERÊNCIAS
BOCK,
Silvio Duarte. Orientação profissional: a abordagem sócio – histórica/ Silvio
Bock – 3. ed – São Paulo. Cortez, 2006.
BARREIRO,
Julio. Educação popular e conscientização. Petrópolis: vozes, 1980.
MANDEL,
Ernest, Introdução ao marxismo, 2. ed – antídoto, 1978.
FREIRE,
Paulo. Educação como prática de liberdade, Rio de Janeiro, paz e terra.1997.
FREIRE,
Paulo. Pedagogia da autonomia, saberes necessários a prática educativa, 28 ed -
paz e terra,1996.
MARX, Karl;
ENGEL, Frederich. O manifesto do partido comunista. São Paulo: Martin Claret,
2002.
FREIRE,
Paulo. Ação cultural para a liberdade, 12. ed
- São paulo, paz e terra.
Comentários
Postar um comentário