Por: Vera Lúcia de Azevedo Dantas, Maria Rocineide Ferreira, Elizabeth Vieira da Silva, Antonio Edvan Florêncio.
O Espaço Ekobé, que em tupi guarani significa vida, foi estruturado durante a 57ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SPBC), realizada em julho de 2005, em parceria com a Universidade Estadual do Ceará (UECE) e a Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza, como forma de estabelecer diálogos entre os saberes disciplinares da universidade, aqueles desenvolvidos na prática profissional e os gestados a partir das experiências de movimentos populares.
Desde então, os atores e atrizes dos movimentos e
práticas populares de saúde de Fortaleza e região metropolitana gerem
coletivamente o espaço e, ancorados nas farinhadas culturais realizadas nos
espaços de atuação dos movimentos, foram propondo ações culturais, de cuidado
em saúde e de formação.
As práticas populares de cuidado existentes no
contexto dos movimentos populares de Fortaleza têm representado a principal
singularidade dos processos educativos do Ekobé que é composto por um coletivo
de educadores que mantém um calendário de práticas e uma rede de formação
solidária disponibilizadas a estudantes, trabalhadores e pessoas das comunidades.
Essas ações desencadearam movimentos de aproximação
com os conteúdos temáticos de algumas disciplinas integrantes dos cursos da
área de saúde na graduação e pós – graduação, bem como com os processos de
educação permanente desenvolvidos nos serviços de saúde, no sistema municipal
de saúde escola de Fortaleza e nos movimentos populares. Realizando assim uma
espécie de extensão comunitária como foi nomeada pelo poeta Elias José da
Silva, ou ecologia de saberes no dizer de Boaventura Santos.
As práticas populares de cuidado presentes no Ekobé
estão centradas na saúde e não na doença, o que possibilita maior interação e
compreensão das situações de crise vivenciadas pelas pessoas e apoio para as mudanças
e aprendizados advindos dessa experiência do adoecimento, contribuindo assim
para a “desmedicalização”. Sua potencia na formulação de projetos terapêuticos
singulares está no fato de trazerem experiências e contribuições das culturas
locais, em sua riqueza e diversidade, chamando a dimensão da integralidade tão
realçada pela experiência popular, que vê os sujeitos em sua inteireza. O
conhecimento dos atores e atrizes populares como educadores, cuja atuação está
norteada pela educação popular, parece funcionar como uma espécie de força
motriz capaz de promover ação solidária entre educadores e educandos
despertando sua potencia de ser – no – mundo, como sujeitos que se fazem com os
outros e nessa edificação engendram possibilidades e não determinismos( FREIRE,
2000).
No ano de 2007, foram realizados 14 processos
formativos, facilitados predominantemente por atores populares e que envolveram
aproximadamente 350 participantes, entre os quais podemos citar: residentes e
preceptores de medicina de família e comunidade, estudantes da graduação da UECE
e Universidade de Fortaleza (UNIFOR), trabalhadores da rede básica de saúde e
de hospitais municipais, e atores de diversos movimentos populares de
Fortaleza. Esse processo tem se mantido e ampliado, especialmente no que diz
respeito a terapia Reiki, constituindo
uma rede de mestres, o que possibilitou a formação de aproximadamente 80
reikianos da rede municipal de saúde de Fortaleza e a inclusão do Reiki em 32 unidades básicas de saúde,
quatorze CAPS e 2 hospitais municipais.
Dessa forma o Ekobé tem possibilitado a produção de
práticas que promovem uma convivência ativa de saberes, incluindo o saber
científico, que se enriquecem no diálogo, chamando a dimensão da integralidade
que vê os sujeitos em sua inteireza, com a sua subjetividade, espiritualidade,
entre outras das diversas dimensões do viver humano.
A interface com a UECE possibilita a interação dos
vários movimentos e destes com as universidades e a produção de novos
conhecimentos sob o protagonismo popular.
REFERENCIAS:
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes
necessários á prática educativa. São Paulo: Paz e terra, 2000( Coleção leitura)
SANTOS, B. S. A A Universidade século XXI: para uma
reforma democrática e emancipatória da Universidade. Educação, Sociedade &
Culturas, n. 23,p. 137-202,2005
( Este texto faz parte de uma publicação da revista da Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular em Saúde - ANEPS).
Comentários
Postar um comentário