UM PANORAMA INICIAL DA ESTÉTICA MARCUSEANA



OBJETIVO
Pretende - se com este resumo, apresentar um panorama inicial sobre pensamento do filósofo Hebert Marcuse em relação a Arte, expondo a sua crítica a concepção ortodoxa da estética marxista, bem como, explicitar a proposta do autor sobre a arte enquanto componente essencial da revolução em contraposição a cultura afirmativa do “status quo” e do estabelecido”.  Para tal exposição à metodologia utilizada partiu de uma consulta literária e filosófica na obra dimensão estética, bem como, artigos e revistas que referendavam o pensamento de Marcuse sobre as relações entre estética, arte, Literatura e filosofia.

Prefácio

1p – Hebert Marcuse pretende lançar uma crítica e impugnar as concepções elaboradas pelos estudiosos da Estética Marxista.  A crítica principal levantada por  Marcuse é de que existe uma compreensão equivocada da relação entre arte e Marxismo. Não é por acaso que no parágrafo 19, do capítulo I, Marcuse vai criticar o posicionamento do escritor, jornalista e crítico de arte Alemão, Lu Marten. Marcuse dizia que Lu Marten, defendia a teoria marxista no sentido de que possuía uma forma teórica própria e não teria a possibilidade de atribuir uma questão de estética nesta teoria. Aqui já é visível um posicionamento ortodoxo em relação às questões do marxismo e sua relação com a arte.



Para Marcuse o problema central encontra – se na “ortodoxia” que se aplica a estética Marxista. Neste sentido pensar a estética Marxista de forma ortodoxa, seria limitar o potencial da arte revolucionária a uma mera relação da produção artística, com a sociedade de classes e as relações entre os indivíduos por meio da produção etc.

“A minha crítica desta ortodoxia baseia – se na teoria marxista, na medida em que esta também encara a arte no contexto das relações sociais prevalecentes e atribui a arte um função política e um potencial político. Mas ao contrário dos estetas marxistas ortodoxos, vejo o potencial político da arte na própria arte, na forma estética em si. Além disso, defendo que, em virtude de sua forma estética, a arte é absolutamente autônoma perante as relações sociais existentes. Na sua autonomia, a arte não só contesta estas relações como, ao mesmo tempo, as transcende”. Deste modo, a arte subverte a consciência dominante, a experiência ordinária. (P2, pag, 11,12)



2p – Marcuse propõe que a arte dependente que qualquer relação com a esfera social, possui na sua “forma, ou seja, na “sua realização” um potencial capaz de provocar um processo de mudança ou modificação na consciência dos indivíduos e na esfera social dominante, onde os mesmo estão inseridos.

3p – Em relação à arte, Marcuse, vai expor que a sua atenção especial e domínio, parte no sentido da literatura, não que as outras linguagens não façam parte de seu ensaio autofundamentado, pelo contrário, a literatura, bem como a música ou as artes visuais assim como outras linguagens artísticas estão implicadas nos mesmo processo. Em se tratando da seleção da obra de arte, Marcuse continua mantendo uma clareza no que concebe a distinção da “obra de arte”, para ele existe uma diferença quer no conteúdo estético, quer no seu sentido, que poderá ser bom ou mau.

4p – Partindo para o sentido de uma categoria revolucionária da arte expressa neste quarto parágrafo, Marcuse vai nos dizer que a arte pode ser revolucionária em muitos sentidos, como na “consciência construída” (a dimensão intelectual e subversiva da arte em contraposição ao estabelecido) a partir da época das vanguardas, a “idéia da obra de arte” que surgiu com os movimentos como: romantismo, surrealismo, dadaísmo, cubismo etc, provocou um momento de ruptura dentro dos padrões dominantes de uma arte que até então, era produzida com características do classicismo. Uma arte com o acesso de poucos.

É importante destacar que na vanguarda temos dois pontos fundamentais, o primeiro é a “idéia e o sentido que é expresso na obra” e posterior a esse momento, vem o produto ou a técnica que é aplicada para tal obra. Justamente sobre a técnica, que Marcuse vai destacar como insuficiente para atestar a qualidade, verdade e autenticidade da obra de arte.

A arte pode ser revolucionária em muitos sentidos. Num sentido restrito, a arte pode ser revolucionária se representa uma mudança radical no estilo e na técnica. Tal mudança pode ser empreendida pó uma verdadeira vanguarda, antecipando ou refletindo mudanças substanciais na sociedade em geral. Assim o expressionismo e o surrealismo anteciparam a destruição do capitalismo dos monopólios e a emergência de novos objetivos de mudança radical. Mas, a definição meramente técnica da arte revolucionária nada diz da qualidade da obra, nem de sua autenticidade e verdade. (4P, pag, 12,13)

5p - Para tanto, a arte revolucionária seria para Marcuse aquela que em virtude de sua forma estética, produzirá uma acusação a realidade estabelecida do statuos quo, uma arte capaz de provocar uma ruptura da realidade social mistificada e petrificada, para que a partir deste movimento possa surgir a chamada libertação dos indivíduos.

Marcuse chega a citar a importância do dramaturgo alemão Bertold Brecht além de outros escritores, como produtores de uma arte que possibilita esta acusação do “establishiment”. Como veremos no poema de Brecth:

(Nada È impossível de mudar)
 Desconfiai do mais trivial,
Na aparência do singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
Não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
 Pois em tempo de desordem sangrenta,
 De confusão organizada,
De arbitrariedade consciente,
De humanidade desumanizada,
Nada deve parecer natural
 Nada deve parecer impossível de mudar
(BRECTH, Bertold, Antologia Poética)

Neste sentido, toda verdadeira obra de arte seria revolucionária, isto é, subversiva de percepção e da compreensão, uma acusação da realidade estabelecida, a aparição da imagem de libertação. Isto verifica – se tanto no drama clássico como nas peças de Brecht, tanto  nas wahlverwandtshaften de Goeth como nos Hunderjahre de Günter Grass, tanto em Willian Blake como em Rimbaud. (6p, pag, 13)





Em se tratando do potencial da arte subversiva é explicitada como a relação que a obra de arte será expressa de acordo com o desenvolvimento histórico das relações sociais dos indivíduos, porém “o conteúdo expresso na obra” é conceituado por Marcuse como a “realidade estabelecida” não expressa à verdade e o potencial da arte. A verdade da arte está no sentido da relação que esse conteúdo tem com o mundo e as relações que os indivíduos constituem como possibilidade de libertação dentro desse mundo. Marcuse nos dizia da seguinte forma:

“Estas condições históricas estão presentes na obra de vários modos: explicitamente ou como pano de fundo e horizonte, na linguagem e nas figuras de retórica. Mas são expressões e manifestações históricas específicas da mesma substancia trans – histórica da arte: a sua própria dimensão de verdade, protesto e promessa, constituída pela forma estética. Assim, o Woyzec de Buchner, as peças de Brecht, mas também os romances de Kafka e de Beckett são revolucionários em virtude da forma dada ao conteúdo. Na verdade o conteúdo ( a realidade estabelecida) aparece nestas obras alienado e mediatizado). A verdade da arte reside no fato de o mundo, na realidade, ser tal como aparece na obra de arte”. ( 7p, pag, 14)

8p - Neste sentido, Marcuse vai nos dizer que a literatura não é revolucionária apenas pelo fato de estar sendo produzida para a classe do proletariado ou para a revolução, a literatura pode ser revolucionária em si própria, na sua forma estética. Não obstante, a relação da arte com a “práxis” não seria possível em detrimento da destruição da arte se a mesma estiver dentro de uma função política. A arte enquanto função política seria apenas a reprodução de uma estética da classe dominante, que está dentro do estabelecido, da cultura afirmativa.

“O potencial político da arte baseia – se apenas na sua própria dimensão estética. A sua relação com a práxis é inexoralvelmente indireta, mediatizada e frustrante. Quanto mais imediatamente política for a obra de arte, mais ela reduz o poder de afastamento e os objetivos radicais e transcendentes de mudança. Neste sentido, pode haver mais potencial subversivo na poesia de Baudelaire e de Rimbaud que as peças didáticas de Brecht”.( 8p, pag, 14)



MARCUSE, A Dimensão Estética (The Aesthetic Dimension), tradução: Maria Elisabete Costa, editora: Edições 70, Lisboa – Portugal.


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