A DIALÉTICA HEGELIANA EM MARCUSE




CONSIDERAÇÕES SOBRE A DIALÉTICA HEGELIANA EM HERBERT MARCUSE




Esta exposição está dividida em cinco parágrafos, considerando a ordem dos parágrafos em números ímpares, distribuído na seguinte ordem: 1§, 3§, 5§, 7§,9§.


1° ParagrafoEste livro foi escrito na esperança de ser um pequeno contributo para a revitalização, não de Hegel, mas da faculdade mental que está na iminência de ser eliminada: o poder do pensar negativo. Como Hegel o define: “Pensar é sim, essencialmente a negação daquilo que está imediatamente diante de nós”. O que quer ele dizer por negação, categoria central da dialética? (MARCUSE, apud GADANHA pag. 4).


    Marcuse em grande parte de suas obras filosóficas deixa claro o seu teor de preocupação com o mundo, os indivíduos e a natureza, a subjetividade e a objetividade etc. Neste parágrafo ele inicia com a preocupação referente a consciência dos indivíduos. Como ele afirmava: sua proposta não seria repetir o que Hegel disse, mas aprofundar a necessidade de revitalizar o poder do pensar negativo. Para tanto, ele resgata a importância da lógica dialética Hegeliana no sentido de pensar a razão histórica particular que marcava o período dos anos 60 no mundo.

    Mas o que acontecia no mundo nos anos de 1960? Seguem alguns exemplos: Segregação racial em Montgomery, Alabama, EUA, estado de emergência na África do Sul, URSS testa no ártico uma das maiores bombas nucleares do mundo, crescimento econômico das grandes tendências mundiais, desenvolvimento da sociedade industrial avançada, série de revoluções juvenis como é o caso do maio de 68 como momento de negação do mundo que estava sendo referendado como verdadeiro. Ou seja, momentos particulares que não condizem com o todo.

    A marca deste período ou a “razão histórica como verdade” neste momento histórico, consistia em avanços e retrocessos, os avanços no campo do desenvolvimento industrial, no modo de pensar e agir dos indivíduos, na evolução das ciências etc. Todavia, dentro desta razão se fazia presente, cenários de novos desenvolvimentos para a dominação, criação de armas nucleares, disputas por territórios, guerras e a falsa consciência de um mundo que é a contradição de si mesmo.

    Um mundo onde a verdade estava alicerçada na base da materialidade, onde o indivíduo cada vez mais era levado a reboque para a sua reificação. Por isso Marcuse aponta a necessidade do pensar negativo como a possibilidade de superação rumo ao desenvolvimento qualitativo, não apenas quantitativo como reforça o mundo do status quo. É preciso enfrentar o que está posto como verdade com o pensar negativo, porém, o negar precisa seguir a ordem da lógica dialética, neste sentido o indivíduo não poderá negar o todo ou tudo, pois ele enquanto tal estaria se anulando. Não se separa sujeito de objeto ambos estão em relação.

    A negação só em “cancelar” não tem possibilidade de avanço, o processo de mudança parte da negação do status quo, ou seja, negar o estabelecido mantendo sua tradição, rumo ao avanço qualitativo ou a própria síntese. Confrontar o universo estabelecido da ação e do discurso.
3º Paragrafo“Hoje este modo dialético de pensamento é estranho ao todo do universo estabelecido do discurso e da ação. Parece pertencer ao passado e estar refutado pelas conquistas da civilização tecnológica. A realidade estabelecida parece suficientemente promissora e produtiva para repelir e absorver todas alternativas. Assim, a aceitação – e até a afirmação – desta realidade parece ser o único princípio metodológico razoável. Ainda mas ela não impediria nem a crítica nem a mudança, pelo contrário insiste no caráter dinâmico do status quo, em suas constantes “revoluções”, este é um dos suportes mais sólidos para tal atitude. Esta dinâmica ainda parece operar sem fim dentro da própria estrutura da vida: ela regula, mais do que abole, a dominação do homem, ao mesmo tempo pelo homem e pelos produtos do seu trabalho. O progresso torna – se quantitativo e tende a retardar indefinidamente a passagem da quantidade a qualidade – isto é, o acontecer de novos modos de existência com novas formas de razão e liberdade” (MARCUSE, apud GADANHA, pag.5).


    O discurso e a ação alicerçado pelo modo de produção capitalista monopolístico é uma das questões centrais deste paragrafo, o mundo que é tido e defendido pelos indivíduos como verdadeiro, um universo onde o espírito absoluto e objetivo dos indivíduos, passam a ser dominados e a dominar, defender e a reproduzir as estruturas de sua própria destruição é tido como suficiente e produtivo. A função do status quo é manter a conservação deste estado, elevar apenas quantitativamente, esquecendo de que o sujeito é constituído de espírito e que por sua vez, é a elevação do espírito que trará a possibilidade de elevação qualitativa. Apenas do espírito? Não, mas do conjunto do todo, das questões subjetivas e objetivas. O progresso apenas quantitativo é cego, ele retardará a possibilidade de elevação e emancipação dos indivíduos.

    Porém, esta realidade estabelecida é também caminho possível para o processo de libertação, é dentro dela que surge a elevação rumo a revolução política, como afirma o Marcuse: Ainda mais ela não impediria nem a crítica nem a mudança, pelo contrário insiste no caráter dinâmico do status quo, em suas constantes revoluções. É através de um processo de subversão que o pensar negativo faria sua contribuição.
    O perigo de uma dinâmica que opera dentro da estrutura da vida, que conserva e regula a vida dos indivíduos precisa ser sublimada, o pensar negativo é necessário para subversão deste quadro particular.


5º parágrafo Agora o que (ou quem) é esta subjetividade de que, em sentido literal constitui o mundo objetivo? Hegel responde recorrendo a uma série de termos que denotam o sujeito em suas várias manifestações: pensamento, razão, espírito e ideia. Como nós não temos mais tido o fluente acesso a tais conceitos que os séculos XVIII e XIX tiveram, tentarei esboçar a concepção de Hegel em termos mais familiares (MARCUSE, apud, GADANHA, pag. 5)


    A subjetividade é o pensar do indivíduo que faz com as coisas se tornem objetivas, ou o outro de si. Marcuse retoma Hegel em relação o Ser em sí e o Outro de Sí. O ser em sí é a consciência negativa, ou a própria subjetividade dos indivíduos. O que está objetivamente no mundo torna – se o outro de sí, mas, não o ser em sí. Nesse sentido, qualquer realidade é a realização da consciência ou a razão absoluta.
7º Parágrafo Novamente um juízo de valor - e agora um juízo de valor formulado para o mundo como um todo. Mas liberdade é para Hegel, uma categoria ontológica: isto significa ser, não um mero objeto mas sujeito de sua própria existência, não sucumbir a condições externas, mas transformar fatalidade em realização. Esta transformação é de acordo com Hegel, a energia da natureza e da história, a estrutura interna de todo o ser! Pode – se sentir tentado a zombar desta idéia mas deve – se estar ciente de suas implicações. (MARCUSE, apud Gadanha, pag. 6)


    Marcuse levanta neste paragrafo a importância da liberdade do sujeito, essa liberdade é essencialmente a realização do espírito absoluto no mundo, o indivíduo da liberdade é aquele que desenvolve - se como sujeito da sua própria existência, isso será possível através da relação entre subjetividade e objetividade com a energia da natureza e da própria história. O sujeito faz o mundo e ao mesmo tempo o mundo faz o sujeito. Existe uma interinfluencia entre sujeito e objeto.
9º Parágrafo“A liberdade constitui a dinâmica mais profunda da existência e o próprio processo da existência num mundo não livre é a “negação contínua daquilo que ameaça negar ( aufheben) a liberdade”. Assim a liberdade é essencialmente negativa: existência é igualmente alienação e o processo pelo qual o sujeito volta a si compreendendo e denominando a alienação. Para a história da humanidade, isto significa atingir um “estágio do mundo” no qual o indivíduo persiste numa indissolúvel harmonia com o todo e no qual as condições e as relações do seu mundo “ não tem objetividade essencial independente do indivíduo”. Quanto as possibilidade de atingir tal estágio, Hegel era pessimista: o elemento de reconciliação com o estado estabelecido de coisas, tão forte em sua obra, parece em grande medida ser devido a este pessimismo – ou, se preferir, este realismo. A liberdade está relegada ao reino do puro pensamento, a idéia absoluta. Idealismo padrão: Hegel partilha este destino com a principal tradição filosófica. (MARCUSE, apud Gadanha, pag 6).

    Quando Marcuse expõe que a liberdade é a essência da negatividade ele levanta o problema das contradições internas entre o indivíduo e o mundo onde ele está inserido. Ou seja, esse mundo das coisas que “estão” como verdade absolutas é necessário de negação, trago como exemplo a seguinte reflexão: para a “guerra” existirá uma não guerra.

    Porém é importante frisar que o avanço qualitativo só é possível por que existiu a negação desta guerra e depois uma elevação de qualidade por meio do movimento do pensar. Esse caminho é possível pelo movimento das consciências dos indivíduos. Aquilo que ameaça negar a liberdade sempre será negado pela razão ou pela ideia.

    Por isso que Marcuse assim como Hegel defendem a permanência da subjetividade e o próprio poder da consciência negadora. A liberdade é a própria existência do indivíduo, mas não essa existência vulgar objetal, isto seria um absurdo. A existência é a ideia se efetivando no mundo como puro pensamento.


Referencias Bibliográficas

MARCUSE. Herbert. A not on dialetic do livro de Herbert Marcuse – Reason and revolution – Hegel and the rise of social theory – tradução: Alberto Dias Gadanha, Boston Beacon press, 1960.   

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