PERCEBENDO AS CONTRADIÇÕES DA VIDA SOCIAL

Por: Jair Soares de Sousa


O filósofo alemão Hegel(1770) já anunciava categoricamente por meio de seus estudos pautados na "lógica dialética" que é impossível fugir das forças de contradição existentes no mundo. Ou seja, para compreender o sentido e a razão de ser das questões é necessário compreender inicialmente as contradições existentes entre as coisas e suas relações, para que a partir desta compreensão, possa se construir ou compreender uma outra essência das coisas. Neste sentido, o aparente é apenas algo que precisa ser amadurecido e desvelado. Essas contradições aparecem em todos os processos da vida,(totalidade das relações) principalmente nas relações travadas pelos indivíduos dentro de uma estrutura política. 

Partindo desta compreensão de Hegel tendo como ponto central a "contradição" inicio este texto no sentido de levantar aqui algumas reflexões sobre uma possível introjeção de posturar violentas e preconceituosas em relação aos diversos grupos sociais. Quando falo em grupo social, refiro-me aqui aos direitos que cabem aos negros, negros homoafetivos, lésbicas, transexuais, simpatizantes etc. Deixar claro que o que se aproveita do pensamento de Hegel para esta reflexão consiste no seu conceito de contradição, não estarei utilizando nenhum pressuposto de uma eticidade. 

  A contradição aparece quando aqueles que se dizem defender as causas e lutas sociais assumem conscientemente ou inconscientemente posturas totalmente excludentes e autoritárias em relação a estes grupos. Estas posturas aparecem inicialmente por meio do pensamento que por sua vez externaliza-se através da palavra e vai universalizando-se dentro da estrutura dominante e excludente chamada estado, constituído com seus padrões morais, administrado pelas instituições de poder pautadas no antigo discurso conservador e de valores que também são contraditórios. 

É sob a afirmação de valores que se exclui as pessoas, valores culturais criados historicamente no mundo que abrem uma cortina de segregação com os diversos grupos sociais. É também por meio de divisões de classes sociais que se mantêm tais posturas.

Neste sentido, vejamos as primeiras contradições: O que faz pessoas e instituições levantarem discursos pautados em princípios éticos e valores morais, acabarem promovendo a exclusão desses grupos? Esta pergunta não pretende ser respondida neste texto. A igreja católica, igreja protestante, máquina pública, associações, sindicatos, programas e projetos sociais que dentro de seus estatutos apresentam como proposta cuidar da vida humana, dos direitos, das questões dos trabalhadores e trabalhadoras, são os responsáveis pela sustentação do preconceito e da exclusão social. 

É lastimável ter de escutar palavras de exclusão e preconceito saindo das bocas daqueles que pregam a solidariedade com o outro, a caridade, a preocupação com os seres humanos e animais. São palavras de ódio e rancor que muitas vezes falam em nome de princípios que não condizem com as propostas de uma ética universal, ou seja, aquela que prega o sumo bem a humanidade. Como é o caso daqueles que se dizem fazer parte de instituições religiosas. Mais uma vez em nome de deus e da palavra(bíblia) expressam todo o seu ódio e rancor com as escolhas particulares dos diversos grupos sociais. Vejamos a passagem de Efésios que nos apresenta de forma clara a preocupação e o respeito com o outro.

“Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem.” Efésios 4.29

No evangelho segundo Mateus, localizado no livro do novo testamento ele vai nos deixar cientes da importância de não dotarmos posturas excludentes, de agir de forma preconceituosa para com o outro, mesmo que não concordes com determinadas posturas, nós não temos o direito de excluir as pessoas. Parece-me que aqueles que dizem ler as palavras ditas sagradas, precisam revisitar os textos para entender melhor os enunciados.

(Mt:7, 2-5)  " Não julguem, para que vocês não sejam julgados. Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês". "Porque você repara no cisco que está no olho do seu irmão, e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho? " Como você pode dizer ao seu irmão: Deixe-me tirar o cisco do seu olho, quando há uma viga no seu? Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão.  

Desta forma, conclui-se que é por deveras necessário e urgente perceber estas contradições e construir outros caminhos possíveis para incluir as pessoas, para acolhe-las e respeita-las da mesma forma que esperamos o respeito e a solidariedade dos outros. "Mas não vamos aqui respeitar e acolher por que vamos receber algo em troca", isto seria um equívoco, acolheremos porque faz parte do nosso ser. Faz parte de princípios éticos universais como a : justiça, solidariedade, diálogo e amorosidade com a humanidade.  




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