ALGUNS POEMAS DE MIM - Por Jair Soares






1

NOSSA OUTRA FACE
Como somos tolos e tolas
O tempo todo e o dia inteiro
Com a ilusão de sermos
 PUROS e VERDADEIROS

Sim verdade! A pura verdade!
Verdade da exclusão
Verdade da desunião
Verdade da intolerância
Verdade da ganância
Verdade da religião

Verdade da homofobia
Verdade da covardia
Verdade do holocausto
Verdade da antipatia
Verdade da pedofilia

Verdade do desamor
Verdade da dor
Verdade do ódio
Verdade do rancor
Verdade sem pudor

Verdade do ter
Verdade do sofrer
Verdade do mal caráter
Verdade do não ser
Verdade do morrer

 2
SENSAÇÕES
Escrevo poesia não é pelo acaso
Nem tão pouco por missão
Não escrevo para agradar ninguém
Apenas escrevo o que vem na mente

Pois o coração logo sente
A garganta fica seca
O corpo uma tremedeira
Dá um formigamento
E aí surge o poema

A regra é apenas uma!
É não ter regra!
Talvez por isso que seja
Tão complexo fazer um poema

O olho a pestanejar
A respiração profunda
A cabeça coça
Os meninos gritam!
Paiêêê! Olha o fulano aqui!

Daí surge mais um verso
As vezes tem musicalidade
Outras não
Pronto! Terminei!

 3
VERBO DOLOROSO
Meninos, meninas
Senhores e senhoras
Sentados nas portas
Ainda conjugam
O verbo RUAR

Eu RUA
Tú RUA
Ele Rua

Nós RUAMOS
Vós RUEIS
Eles RUARAM

O direito negado
Até na rua!
Que é lugar de ir e vir
Quanto mais alí no estado de exceção

Eu RUA
Tú RUA
Ele Rua

Nós RUAMOS
Vós RUEIS
Eles RUARAM

Só me restou o R da Rua
Que Roubaram antes de nascer

 4
AMOR EM ESCALA NATURAL
Eu ente por sua causa e você nem ligou!
Mas não tem problema não, eu RÉ-fiz a minha vida
MI culpas por não corresponder as suas expectativas
FAz bem a gente não estar mais juntos
Eu SOL digo uma coisa
LA naquele coração, bem fundo!
SI fez um amor por você
Tem DO de mim!

 5
QUOD MENDACIUM DE ELIGERE
Dizem que no mês de outubro
A cada quatro ou oito anos
Torna-se o mês da mentira e da enganação
Os ratos de paletó e gravata
Descem de seus púlpitos
Mendigando a atenção
Chegam assim, como se nada tivesse acontecido
Logo, todo o texto se repete

O sorriso estampado no rosto
O coração apertado e com medo
Eles sabem que estão mentindo
Mas sustentam a imagem e a posição
A retórica novamente aparece
As promessas insanas,
Verborragias! Verborragias!
Visão de poder novamente

Fato esquecido!
Projetos jamais!
Propostas nunca houveram!
Não deu! A própria estrutura não permite
Será que houve engano?
Lembra da votação?
Aquela contra os trabalhadores e trabalhadoras?
Seu paletó acionou o botão do sim!

Outras afirmaram sim!
Outros e outras não!
Sabe quem caiu, tropeçou e pagou muito caro?
A população
A mesma que escutou com as orelhas em pé
A retórica sofista
Elaborada por vós e seus pares
E agora José?

Com que cara ou roupa
Vós tendes a coragem de aparecer?
Achas que esquecemos dos resultados?
Engana-te, o povo não é mais tão ingênuo
Os discursos não cabem mais
É melhor desistir
Procurar outra função
Não cansas me mentir para si mesmo?

 6
ARTEculações
O vento bate mais uma vez minha porta
Trazendo a lembrança de outrora
Da pureza do teu ser inconcluso
E da incompletude da tua alma

Do jeito sereno de conduzir as nossas vidas
De ser apenas você verdadeiramente
Sem querer e ao mesmo tempo sem saber
Apaixonei-me pela diversidade do teu corpo em movimento constante de criação.

Pinta timidamente o quadro cintilante dos nossos universos.
Sim, diversos universos que são e não estão, que é e ao mesmo tempo não é.
Vida feito onda que vai e vem sem rumo,
Sem saber o caminho certo de estar novamente ao lado seu.

Hoje tenho a certeza mais exata de todas
De que sem tua presença não viverei,
Mas, prefiro morrer assim, sem muita pressa, calmamente vou adentrando os caminhos abissais para novamente renascer pleno e criativo.
Morrer, nascer, ressurgir, pois morrerei para nascer novamente pleno em criação.

 7
CEGUEIRA DA ALMA
Seis anjos adentraram o círculo de cores
Cada qual buscando um lugar para ver a luz que escondia o azul celeste
Sem saber ficaram perdidos em seus olhares

Não viram, apenas olharam
Se quer permitiram-se
Perceber o novo
O que já era antes mesmo de ser
Perderam o amanhecer

O arrebol ficou perdido na cegueira da alma
O corpo amarrado nas couraças e correntes da enrijecida matéria,
No aprisionado espírito castrador da liberdade.

E assim a servidão voluntária se fez
E assim a igualdade se fez exclusão
E assim o algoz renasceu
Deixando de lado o coração

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