No dia 27 de março de 2019, realizamos no Espaço de Extensão
Paulo Freire/Uece, o terceiro encontro do Curso: Cenopoesia e Educação Popular
na construção do Jogo de Linguagem Sarau. Continuamos o debate com o tema do Módulo
I: De 83 a 2019 - A dimensão conceitual e histórica da Cenopoesia no
Brasil. Salientamos a participação e contribuição da professora e
coordenadora do Programa Viva a Palavra, Claudiana Nogueira Alencar.
Iniciamos o
encontro com uma roda de acolhimento integrando os novos educandos(as), cada
participante partilhou o que fazia, estudava e com que linguagens se
identificava, destacamos os novos participantes : Edvar de Lima – ex-integrante
do cursinho pré-vestibular popular Viva a Palavra que foi aprovado para cursar
filosofia na (Uece) e Joelson Oliveira, integrante do Programa Viva a Palavra.
Posteriormente,
convidamos o grupo para um momento de reflexão a partir da metodologia dos
Círculos de Cultura de Freire (1921-1997). Sistematizados por Paulo Freire
(1991) os Círculos de Cultura estão fundamentados em uma proposta pedagógica
cujo caráter radicalmente democrático e libertador propõe uma aprendizagem
integral, que rompe com a fragmentação e requer uma tomada de posição perante
os problemas vivenciados em determinado contexto. Para Freire essa concepção
promove à horizontalidade na relação educador-educando e a valorização das
culturas locais, da oralidade, contrapondo-se em seu caráter humanístico, à
visão elitista de educação.
Para Pierre Furter[1]
(1991) a oralidade de Paulo Freire não expressa só o seu estilo pedagógico.
Revela sobretudo o fundamento de toda sua práxis: a sua convicção que o homem
foi criado para se comunicar com outros. Como
ponto de partida utilizamos duas perguntas geradoras, mas foi percebido que
durante o diálogo mediado pelas palavras, foram surgindo proposições que inclinavam
- se para potencialidades e estratégias que narravam possibilidades de
transformação nos espaços que vivemos. Assim, iniciamos o diálogo:
1ª – O que cada pessoa
trazia de bom para partilhar? Para contribuir com as pessoas?
2ª Percebendo a situação
política atual no Brasil, que desafios poderíamos levantar?
A partir das palavras geradoras
o grupo foi construindo um painel com reflexões de suas experiências de vida. Dentre
as diversas palavras destacamos: RESISTÊNCIA, ESCUTA ATIVA, EXPERIÊNCIA,
ORGANIZAÇÃO, MUDANÇA, TRANSFORMAÇÃO, EMPATIA. Nessas palavras identificamos
dimensões que impulsionam para um processo de transformação de determinadas
situações vigentes, ao mesmo tempo, percebemos o desejo profundo de mudança
social e transformação local a partir do potencial que cada educando destacava.
Contrastando com o olhar potencializador, outras
narrativas/palavras expressaram o contexto social de cada educando e os desafios
dos territórios que habitam. Reflexões sobre diversas situações de violência,
negação dos direitos humanos, processos de exclusão e preconceito com o ser
humano e desafios relacionados o meio ambiente. Compreendemos nessa vivência
que às histórias de vida dos educandos(as) e educadores(as), expressam sua
identidade, vínculo comunitário e consciência crítica diante das situações
estabelecidas. Falar sobre à experiência de vida seria uma ação? Um olhar real sobre
à realidade na qual está inserido(a). Parece – nos que falar da experiência
vivida dialoga com o que John Austin (1911-1960) e Silva (2005) conceituaram
como Teoria dos Atos de Fala.
A Teoria dos Atos de Fala tem por base doze
conferências proferidas por Austin na Universidade de Harvard, EUA, em 1955, e
publicadas postumamente, em 1962, no livro How to do Things with words. 0
título da obra resume claramente a idéia principal defendida por Austin: dizer
é transmitir informações, mas é também (e sobretudo) uma forma de agir sobre o
interlocutor e sobre o mundo circundante (SILVA, 2005, p. 1).
As narrativas e as palavras
são carregadas de significado e como tais, expressam o contexto cultural das
pessoas, seus sonhos, desafios, expectativas de mudança e desejo de
transformação. Através das palavras e narrativas expressas pelos
educandos(as), compreendemos à ideia de Lima (2013) quando fala que a vida é
constituída de Sonhação. Ou seja, o
sonho que movimenta os sujeitos para agirem e interagirem no mundo, sobretudo
uma interação que possa contribuir para à emancipação dos sujeitos, que seja
antes de tudo, uma tomada de responsabilidade ética e política diante da vida.
Compreende – se que essa possibilidade poderia
ser manifestada também pela linguagem cenopoetica, pois à mesma propõe que através
do diálogo com as diversas linguagens da arte, os sujeitos possam manifestar
sua tomada de posição crítica diante do mundo. Assim à música, o teatro e à
poesia, às artes plásticas, à literatura e os encontros de sarau, vem constituindo
– se como importantes estratégias de resistência nas diversas comunidades de Fortaleza.
A cenopoesia que desde os anos 80 vem contribuindo com o fortalecimento dos
espaços de produção de conhecimento através da arte, tem fortalecido diversos
grupos e práticas culturais.
Sua
proposta é criar um espaço de múltiplos diálogos possíveis entre diversas
linguagens artísticas, no sentido de produzir sínteses vitais sem que uma
linguagem se sobreponha sobre a outra. É a criação de um campo de diálogos
entre música, teatro, dança artes visuais e outras linguagens que surgem
seguindo uma transversalidade de conversas que vão findar em uma grande síntese
dialógica. Dentre mais de vinte anos a cenopoesia foi se intensificando
enquanto campo teórico/vivencial e se consolidando enquanto linguagem que
possibilita a interação entre diversos atores(SOUSA, 2019, p.8).
Dando seguimento, após às
reflexões do Círculo de Cultura o grupo foi convidado para uma leitura compartilhada
do texto: Do contexto ao pretexto: um
resumo histórico da cenopoesia com o objetivo de relacionar às palavras centrais
do texto com as reflexões que foram levantadas anteriormente. Como exemplo,
destacamos algumas palavras contidas em um dos textos: RESISTÊNCIA,
ORGANIZAÇÃO, MUDANÇA, TRANFORMAÇÃO, EXPERIÊNCIA, EMPATIA etc. Por fim, tivemos
uma roda de reflexões que apontaram para novas compreensões sobre o processo de
construção da cenopoesia.
REFERÊNCIAS
FREIRE, P. Educação
como prática de liberdade. 20. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1991.
s SOUSA, J.S. Do contexto ao pretexto: um resumo histórico da cenopoesia.
h ttp://www.filologia.org.br/viiifelin/41.htm, acesso: 04/04/2019, 00:00.
http://www.edlumen.net/index.php?route=product/author/info&author_id=1781,
acesso: 06/04/2019, 16:07.
Nota 1
[1] Nació en Suiza en 1931. Estudió filosofía y pedagogía en las
universidades de Lausana y Neuchatel. Se especializó en literatura comparada en
Lisboa, Zurich y Recife. Después de doctorarse en filosofía de la educación,
trabajó durante largo tiempo en América latina, primero en Brasil, luego en
Venezuela. Es profesor en la Universidad de Ginebra, presidente de la Sociedad
Suiza para la Investigación Educativa y vicepresidente de la Asociación
Francófona de Educación Comparada. Ha sido experto de la UNESCO, consultor del
Instituto Internacional de Planificación Educativa de París y representante de
la Confederación Suiza en diversas conferencias internacionales sobre educación.
Pierre Furter escreve o prefácio da obra de
Paulo Freire: Educação como Prática de Liberdade de 1991.
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