CENOPOESIA NAS RODAS DO VIVA A PALAVRA.

Por Jair Soares

A Cenopoesia é expressada por Ray Lima, como uma linguagem híbrida que mistura teatro, poesia e música em harmonia com outras linguagens. Constitui - se de diálogos com outras diversas linguagens com a finalidade de produzir novos discursos, novos mundos e olhares sobre à nossa própria condição de existência nos espaços que vivemos e no mundo ao qual estamos inseridos.

Sem textos preconcebidos, pré - moldados, a cenopoesia acode a um pretexto e no contexto o texto surge (em ato) e se constrói, concretiza - se e age em suas curvas, urnas, químicas, diferentes sabenças, expressões, temperaturas. Da percepção alquímica a intervenção, a vivência, o desafio de repente torna o que seria espetáculo um ato de resistência em linguagem híbrida e leve, reconstituindo - se com síntese dialógica no tempo do ser de cada um que se presenteia com esse cenoato que tem finalidade e talvez não tenha fim(LIMA, 2012, p.20).
Sua intenção é estabelecer um diálogo entre a poesia, às artes e seus biomas morfoexpressivos; romper as amarras da própria língua escrita, em suas limitações como forma de comunicação, quebrando a relação de opressão entre campos de conhecimento tradicionalmente conhecidos e aceitos.

Mesmo considerando suas inúmeras possibilidades e contribuições para à construção cenopoética, a língua(falada e escrita) esbarra em certas limitações históricas que pedem o complemento ou a interação com outras maneiras de falar e dizer, expressar(LIMA, 2012,p.21).

 

A Cenopoesia completa cerca de 36 anos de existência se contarmos com o espetáculo Um Momento com Fernando Pessoa de 1983, produzido pelo grupo Revelação de Teatro e dirigido por Ray Lima. Se contarmos a partir de 1990 com o espetáculo Linhas Cruzadas, texto escrito em parceria com o cenopoeta Zé Cordeiro, teremos 29 anos de cenopoesia. É importante frisar que temos duas dissertações de mestrado sobre Cenopoesia, a primeira defendida pela cenopoeta Josevânia Dantas com o título: Cenopoesia a arte em todo ser: Das especificidades artísticas às interseções com a Educação Popular - UFPB(2015); A segunda defendida pela Cenopoeta Nicole Cruz com o título: Cartas para desver o conceito de resto: A cenopoesia no hotel da loucura - UFRGS(2018).


 O elemento presente nos estudos teóricos e vivenciais e a abordagem histórica da cenopoesia é importante para percebermos que nessas três décadas, seus pressupostos ampliaram - se enquanto prática educativa, artística, ética e política em diversos espaços do Brasil e do mundo. Em espaços de políticas públicas, grupos culturais, coletivos, grupos de estudo, universidades e faculdades, cátedras de ciência e principalmente nas experiências das periferias do Brasil e do mundo.


Destacamos algumas experiências onde a cenopoesia esteve e está presente: Estratégia de Educação Popular em Saúde de Fortaleza - Cirandas da Vida; Ocupa Nise - Hotel Spa da Loucura - RJ; Programa de Extensão Viva a Palavra - Uece/Fortaleza; Grupo Buraco d´ Oráculo - SP. Experiências com a cenopoesia fora do Brasil: Argentina - Instituto de Investigación e Planejamento Educacional/IIPE; México - Querétearo - Seminário da Comunidad de Aprendizaje Latinoamericana; Temuco-Chile; Montevideo - Uruguai.  


Consideramos em específico à experiência que teve inicio em Fortaleza entre 2015 e 2016 por meio do Programa de Extensão Viva a Palavra, ligado ao Curso de Letras da Universidade Estadual do Ceará - Uece e do Laboratório de Estudos Críticos da Linguagem, coordenado pela professora Claudiana Nogueira Alencar. O programa incorporou em suas atividades e estudos à experiência da Cenopoesia, não por acaso, mas pela sua potência enquanto linguagem e pelo diálogo construído com a Educação Popular e a linguística aplicada enquanto ciência.

Iniciamos as primeiras formações no Espaço de Extensão Paulo Freire, encontros de estudos e vivências cenopoéticas que resultaram na elaboração de intervenções, saraus e outras práticas. No mês de maio e junho de 2019 tivemos a possibilidade de ampliar a formação com o curso sobre Educação Popular e Cenopoesia ministrados por Ray Lima e Vera Dantas. Como produto final o grupo Viva a Palavra ficou com à responsabilidade de montar o roteiro cenopoético: PARA NÃO SEGUIRMOS SONÂMBULOS: RUMO AO DESASTRE, um texto escrito por Ray Lima em diálogo com o artigo do filósofo Edgar Morín, publicado na Folha de São Paulo no dia 24/06/2019. A proposta é apresentar o Ato cenopoético na XIII Bienal do Livro do Ceará em agosto de 2019.

A democracia ficou rasa e a consciência democrática está degradada. Chegamos a uma política da urgência e do imediato. E, ao sacrificar o essencial pelo que é urgente, acaba - se por esquecer a urgência do essencial. A crise da democracia é o controle do poder político pelo poder financeiro, que é cego, que vê só os interesses imediatos, não tem consciência do destino da humanidade(Trecho do roteiro cenopoético supracitado). 






REFERÊNCIAS

LIMA, Ray. Pelas Ordens do Rei que Pede Socorro: um roteiro - manifesto da cenopoesia. Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2012.

 

Comentários

  1. Muito interessante, parabéns aos envolvidos!
    Estudar vai toda diferença!!

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